Há alguns anos namorei uma feminista que muito me ensinou sobre as diversas nuances sobre os problemas sociais (e consequentemente existencias) que o machismo acarreta.
Os anos se passaram e sofri na pele tudo aquilo que era previsto pelo intelecto. Ainda que homem e heterossexual, o machismo estava me machucando muito! Por empatia, pude imaginar o quanto machuca algumas mulheres.
No meio do caminho, entrei para o I Hate Flash, o coletivo de fotógrafos que é mais conhecido por registrar a vida noturna e um lifestyle relativamente jovem e alternativo. No convívio, me deparei ainda mais de perto com as causas feministas (lá na empresa, nenhum rastro de machismo tem vez).
A mudança no plano das ideias é rápida! Primeiro, ela sobrevoa o mundo... por um bom tempo... até que aterrissa no corpo. Tudo que vivenciei, debati, conversei e refleti foi sendo internalizado... aos poucos.
Há uns meses, durante um evento que fotografei, encontrei uma antiga ex-aluna de Filosofia e resolvemos conversar durante algum tempo. Durante o papo, me veio aquele estalo de consciência(!) ao abraçá-la e dizer para ela:
A minha geração se fodeu pra que você seja um pouco mais livre!
Eu não esperava, mas ela chorou emocionada e me disse o quanto eu ajudei nas suas reflexões e de diversos amigos de sua época de Ensino Médio. Fiquei emocionado, pois não há nada mais gratificante do que ouvir isso de um ex-aluno.
Nesse mesmo dia, fomos todos para uma after party na praia. Como já de costume, muitas meninas se despiam do sutiã para mergulhar. Minha antiga aluna foi uma delas. Ela se despiu do sutiã e eu a abracei de novo. E, pela primeira vez na vida, pude ter certeza que não senti nenhuma sexualização diante de seios.
Isso não quer dizer que eu não pudesse ter sentido tesão por ela, nem que eu tive que anular a minha libido. Mas quer dizer que eu poderia abraçar um amigo sem blusa e sentir ou não atração por ele, se este fosse o meu apetite sexual. E não é por isso que qualquer homem tenha que vestir a blusa para não ser abordado pela polícia (como no passado). Eu, particularmente, ainda gosto de ver uma namorada ou uma menina bonita de biquini, usufruindo a moda vigente, e me vejo inspirado e excitado por uma roupa íntima que é despida – da mesma forma que algumas pessoas gostam de ver um homem usando uma cueca maneira (sabendo que não é necessário usá-la).

Dias depois, fotografei outro evento. Seis meninas entraram sem sutiã na piscina e resolveram posar para mim com outros amigos. Foto acima.
Quando cheguei em casa, inspirado naquele estalo de consciência(!), me veio o insight de fazer uma releitura crítica da obra chamada "Ninguém é de Ninguém", do fotógrafo Rogério Reis. Mas, ao invés de censurar os rostos, resolvi censurar os peitos... todos os peitos... inclusive os dos homens.

A segunda imagem (não fotográfica), publicada depois, é uma descensura irônica da censura dos seios, também inspirada em Rogério Reis, dedicado a todos os safadinhos que queriam ver a imagem sem censura!
Uma das meninas pediu para eu apagar a foto. Ficou incomodada com o fato da imagem estar numa rede pessoal (publicada no meu instagram: #vnaine_mosaic). Eu estava indo apagar a foto em respeito à menina, quando resolvi perguntar: "posso apenas conversar com você antes?" – Ela topou!
Ficamos um tempo considerável ao telefone. Depois de passar o desconforto inicial (ainda que super respeitoso), argumentei que era uma foto artística e crítica. Como ela tinha visto no celular, não tinha reparado que os peitos dos homens também estavam censurados, por exemplo. Então, ela se encantou com a proposta! Para a minha sorte, ela também era fotógrafa e artista, e finalizou dizendo:
Olha, quer saber, deixa no ar! Adorei e me identifiquei com a ideia!
Vamos lutar juntos!
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